Uma típica cena suburbana desenhada por Jano.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Combate aos mijões: falta educação... mas também falta estrutura!!!


Acabei de mandar para o jornalista Ricardo Boechat!!!



Queridíssimo Boechat,

Como educador, obviamente apóio a luta contra o péssimo hábito de urinar nas ruas, mas, para que ela seja realmente vitoriosa, precisaremos mais de banheiros do que de algemas. Veja o que saiu na capa de “O Globo” no ano passado:


“Uma multidão lota a Avenida Rio Branco durante o desfile do Monobloco, que encerrou o carnaval deste ano, reunindo cerca de 350 mil foliões. Apesar dos 300 banheiros no percurso do bloco, 35 pessoas foram detidas urinando na rua.” (O Globo, 22 de fevereiro de 2010.)

Ora, com essa relação candidato/vaga de mais de 1000 por banheiro, haja algemas para o carnaval carioca! No Bola Preta, com 1 milhão de pessoas, para dar vazão, o sujeito era praticamente obrigado a ir na sua vez com mais uma ou duas pessoas, conhecidas ou não!!! Olha o constrangimento e a falta de segurança!!!

Não sou adepto da “mijação pública” e já não faço mais “pipi nas calças” desde bebê. No entanto, vale lembrar ao prefeito Eduardo Paes que, para não entrarmos no bloco dos mal educados, nós precisamos de um número bem maior de banheiros públicos. Ou será que poderemos usar, na hora do aperto, o camarote da prefeitura?

Um grande abraço,


Prof. Márcio Hilário.

22-02-2011

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

"O Poderoso Chefão" e a Bola da vez

“− A vida inteira tentei subir de nível na sociedade, para onde seria tudo legalizado, correto... Mas quanto mais subo, mais vejo desonestidade. Quando isso vai acabar?” (Michael Corleone)



Não é de hoje que “honestidade” tornou-se uma palavra raríssima. Eu chego a duvidar que ainda exista no dicionário. Segundo Michael Corleone, ela seria um valor inversamente proporcional ao status do sujeito. É por isso que, no último filme da trilogia, ele acaba desistindo do seu sonho de legalizar a Família, tornando-a respeitável na sociedade. Além disso, o velho Don chega à triste conclusão de que o mundo considerado legal está alicerçado fundamentalmente na ilegalidade. Manda quem pode, obedece quem tem juízo, como já diria um dos nossos ditados populares mais conformistas. Tudo bem, mas já que nos lembramos do povo, que tal falarmos das festas populares?


Certa vez, no sábado de carnaval, enquanto eu disputava um pedacinho de chão com outras centenas de foliões que acompanhavam o tradicionalíssimo “Bola Preta”, pude viver na prática uma experiência de puro exercício do micropoder. Foi uma daquelas que o Michelzinho certamente iria gostar.


Era um cenário muito aquém dos prefeitos cariocas: barracas e ambulantes tomando conta das ruas e das calçadas lotadas, enquanto outras se equilibravam nos muros dos edifícios históricos, caricaturando um novo centro da cidade. Os barraqueiros pernoitam no local onde pretendem erguer seu pequeno quintal para receberem os amigos e os parentes, que comerão, beberão e sambarão como se estivessem em verdadeiros camarotes. Embora não fosse “morador do condomínio”, meu Tio Carlos chegou cedo e achou um tipo de “terreno baldio”, um vão entre duas dessas barracas. Não teve dúvidas, arrumou um fio de barbante e cercou o terreno, ou melhor, “O Camarote do Carlão”.


É claro que essa privatização do espaço público e atrapalha a livre circulação das pessoas. Com todo aquele aperto, portanto, nosso humilde puxadinho havia se transformado num latifúndio que afrontava aos transeuntes desterrados. Logo, nesse contexto, duas senhoras reclamaram muito do absurdo que estávamos fazendo, pois, afinal, a rua era pública, lugar de todos. E elas tinham razão. Por isso mesmo, baixamos o barbante e dividimos nosso lugarzinho com todos. As doces senhoras obviamente foram as primeiras a escolherem seu cantinho do lado de cá do barbante. Só que, em menos de cinco minutos, a reclamação já era outra: ó, meninos, é melhor fechar aqui senão todo mundo vai entrar, hein!


Pois é, se Michael Corleone estivesse no “Bola Preta”, veria que infelizmente em nossa sociedade, na “periferia do capitalismo”, cidadania é bandeira de quem está por fora, porque, no fundo, todo mundo quer mesmo arranjar um barbantinho, uma barraquinha, uma pulseirinha vip, uma camisetinha, um camarotezinho, e assim vaizinho. Afinal, só dá pra estar lá em cima, quando alguém fica cá embaixo, né?


Márcio Hilário

01-02-2011