Uma típica cena suburbana desenhada por Jano.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Os Estudantes e a PM: só um tapinha não dói


“Era só mais uma dura

Resquício de ditadura

Mostrando a mentalidade

De quem se sente autoridade

Nesse tribunal de rua”

(Marcelo Yuka)



Universitários reivindicam a saída da PM do campus após a prisão de colegas que fumavam maconha. Era mais ou menos assim a notícia que me fez pensar um pouco na questão para entender melhor a mobilização estudantil. Teria sido ela motivada exclusivamente pelo episódio da repressão ao consumo de drogas dentro da universidade ou, numa visão mais ampla, por temer que a liberdade de expressão fique ameaçada, impedindo, assim, futuras manifestações? Continuei pensando sobre o assunto.

Que a maconha já está mais do que institucionalizada no meio estudantil é fato. Aliás, ela já faz parte da cultura universitária. Calma. É claro que eu não estou afirmando que todo estudante do ensino superior é usuário, mas sim que o poderia ser, se assim o desejasse. Todo mundo sabe (ou pode saber) onde, quando, como e com quem comprar e onde, quando, como e com quem fumar. Para alguns, deveria estar até na grade curricular: Maconha I, Maconha II, Maconha III etc. É normal. Logo, quem entrou de gaiato nessa história foi a PM.

O problema é que a PM não entende isso. Ou entende e não acha tudo tão normal assim. Afinal, quem é do subúrbio sabe muito bem que na nossa área não cola esse papo de cultural ou forma de expressão não. Lá não tem tanguinha de crochê nem qualquer glamour ou idealismo. Que usuário que nada, é maconheiro mesmo! E quem dá um tapinha leva logo um tapão dos ómi. Quando olha pra frente, o pôr do sol está no cano de uma arma. É cabeça baixa e coturno nas costelas. E tudo isso por quê? Maconha é ilegal, marginal!!!

E era justamente aqui onde eu queria chegar. A questão é liberar geral ou só para um grupo? A lei deveria valer para todos ou para alguns? Quando há intervenção militar em áreas de exclusão, o lema é a territorialidade. Ou seja, a necessidade de reconquistar espaços que, ao serem abandonados pelo estado, foram dominados por grupos armados que criaram e impuseram suas próprias leis à margem da Constituição. Ora, se é desse modo, por que só as universidades, as casas de show e o Posto 9 têm privilégios territoriais? O subúrbio também quer.

Quanto ao impasse na universidade, cabe à polícia entender que a sua função é, antes de tudo, proteger o e servir ao cidadão e não vigiá-lo e puni-lo. Seu dever é garantir os direitos de ir e vir e de livre manifestação dos membros da comunidade universitária, bem como zelar pelo patrimônio público. Do lado dos estudantes, cabe cumprir as leis que regem o país e, em caso de discordância, lutar para modificá-las, utilizando todos os mecanismos que sejam compatíveis a um estado de direitos. Para tanto, é preciso contar com menos paus, pedras, máscaras e pichações, e mais com aquilo que deveria ser o seu diferencial qualitativo na sociedade: a inteligência.


Márcio Hilário

08-11-2011