Uma típica cena suburbana desenhada por Jano.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Cartão de Natal


“Prova de amor maior não há
Que doar a vida pelo irmão”
(Canção litúrgica)


Todos os anos, nessa época, as pessoas enviam cartões com votos de boas festas e mensagens de paz e fraternidade. Nos tempos modernos, o espírito natalino impulsiona bastante o comércio e movimenta bem o mercado. Sendo assim, importa mais o valor dos presentes do que o valor de ser presente. Por isso, não pensei em um cartão de natal que tivesse neve, renas, árvores ou enfeites, mas rostos... simplesmente rostos de homens e mulheres de muita presença.

Sabe o que estas pessoas tiveram em comum? Todas foram assassinadas na luta por justiça. Todas levaram seu amor ao próximo ao limite de entregar sua própria vida. Então, agora me responda: quem seguiu mais e melhor os passos de quem foi torturado e morreu na cruz, estes leigos, sacerdotes e religiosos, ou aqueles ficam nos palcos-altares batendo palminha? Os que precisam fechar os olhos para sentir a presença de Jesus ou estes que, enquanto tinham seus olhos abertos, viram o Cristo no rosto dos oprimidos?

Faça um pequeno teste: você conhece a história pessoal de quantas destas pessoas? Pois é. Sabia que ainda há nos dias de hoje muitos que seguem os mesmos passos que elas seguiram quando vivas? Como, se ninguém vê? Acontece que gente assim não está em programas de rádio e televisão, mas conhece de fato as pessoas (que não levam vida de rádio e tv) e onde elas moram (quando moram!).

Pense em tudo isso e tenha um "FELIZ NATAL"!!!

Márcio Hilário.
20-12-2012


PS: Ah! Já ia me esquecendo: os responsáveis por essas mortes (e outras tantas, quem sabe?) estão livres, leves e soltos até agora!!!

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Leonardo Boff: o militante completa 73 anos


Como alguém como eu poderia encontrar as palavras certas para homenagear um homem que é absolutamente fundamental na minha vida. Encontrei Leonardo Boff pessoalmente em três ocasiões: numa palestra no CCBB, nos corredores da Bienal do Livro do Rio e no I Encontro Nacional de Fé e Política, em Santo André, São Paulo. Na última delas, em dezembro de 2000, com os olhos cheios d’água, pude dizer-lhe, do fundo do meu coração, como lhe sou grato por tudo o que ele fez, o que ele disse e o que ele é. Não me esqueço daquela senhora na fila para pedir-lhe que autografasse um livro seu que ela tinha nas mãos: humilde mulher para quem suas palavras tocaram tão fundo quanto em mim. Mas não... não é idolatria que ele merece. Merece ter o mundo que sempre sonhou e para o qual nunca cansou de lutar.


Em outros momentos, as Histórias do Subúrbio já falaram sobre o Anel de Tucum e a Teologia da Libertação. A personificação de tudo o que isso representa para mim é Leonardo Boff. Além de ter aprendido muitíssimo com sua forma de ver o mundo, fui com ele capaz de perceber que há muito mais cristianismo na luta incansável e militante por justiça social do que em longas horas de meditação na clausura de um templo, orando por transformações abstratas para um mundo ilusório. Há muito mais de Jesus na solidariedade dos humildes, que doam mesmo sem ter o que dar, do que na caridade automática e esvaziada dos ricos. Os pobres são nossos mestres e os miseráveis, os nossos doutores. É preciso ouvir seu lamento e atender ao seu clamor.


Para Leonardo Boff, o maior ensinamento de Cristo está na oração na qual se fala não apenas de um Pai nosso, mas, sobretudo, de um Pão nosso. Nesse sentido, ele via um “Jesus Cristo libertador”, que não morreu doente numa cama cercado de discípulos, mas como um militante da justiça. E por ela foi preso, torturado e assassinado. Essa é a mensagem fundamental: a fé não existe para uma práxis meramente contemplativa e alienada, mas sim para uma ação orgânica e crítica na luta por justiça, sobretudo em favor dos mais humildes. Sendo assim, o melhor presente de aniversário que podemos dar um homem como Boff não é falar dele ou apenas ler o que ele escreveu, mas juntar-se a ele em sua eterna militância.

Márcio Hilário

14-12-2011



sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Um batuque imperial


Amigos, hoje é um dia muito muito muito especial.
Há 174 anos, foi criado o Imperial Colégio de D. Pedro II, que logo se tornou a menina dos olhos do Imperador e o modelo para a educação brasileira. Naquela ocasião, os alunos eram praticamente todos da elite branca de homens livres da nossa sociedade.
14 anos depois, a filha do Imperador D. Pedro II assinou um documento que acabou com uma das p...áginas mais vergonhosas da história do Brasil: a escravidão. Depois disso, embora as portas das senzalas já não estivessem mais trancadas, as das escolas ainda não estavam abertas aos negros.
Livres dos açoites mas ainda presos na miséria, os negros teimavam em sobreviver e ainda reuniam forças pra cantar. Foi assim que nasceu o samba. Expressão em forma de música da resistência cultural negra. E como todo filho de pobre, o samba também já nasceu marginalizado: o sambista foi criminalizado e seus instrumentos e ritmos, demonizados.
Acontece que o tempo passou...
As coisas podem ainda estar longe, muito longe, do ideal, mas uma coisa é certa: hoje, as portas do Colégio Pedro II estão abertas aos netos e bisnetos de escravos, que podem neste dia livremente celebrar duas festas: o aniversário do Cp2 e o Dia Nacional do Samba!!!!!
Márcio Hilário
02-12-2011